Os arquitetos Sevince Bayrak e Oral Göktaş da SO? Architecture&Ideas foram atraídos pela ideia de ter uma oportunidade de escapar da urgência urbana de Istambul para um ambiente natural, e em 2017 projetaram a Cabin on the Border. Desde sua finalização, o projeto passou por várias mudanças, e a experiência de moradia levou os arquitetos a reavaliarem suas ideias iniciais e suposições e mudarem como eles vêem a tipologia da casa pequena. Cinco anos após o design do projeto, os arquitetos compartilham o que aprenderam vivendo em uma casa pequena, oferecendo um insight valioso sobre o design de tais projetos.
Quando o estúdio de design baseado em Istambul criou a cabana em 2017, as casas pequenas eram raras na Turquia, enquanto no resto do mundo, a tendência ganhava impulso. Portanto, o que motivou a decisão de construir uma casa pequena era a experiência de alguns amigos, que também ofereceu arquitetos com uma imagem abrangente das realidades da vida em moradias pequenas. Esses insights em primeira mão sobre o movimento das casas pequenas se traduziram no projeto da cabana, ainda mais do que poderia ser aprendido em projetos semelhantes nos veículos de arquitetura naquele momento.
Como tal, o principal foco arquitetônico foi a adaptabilidade a diferentes cenários. Desde o início, a cabana foi projetada em torno de um bom entendimento de condições climáticas, sem romantizar a relação entre arquitetura e paisagem, mas, em vez disso, incluindo a natureza no processo. Pré-fabricadas e transportadas em uma vila até a fronteira da Turquia com a Grécia, a cabana é feita de madeira laminada com um núcleo com isolamento térmico e com janelas de policarbonato.
A experiência de viver na cabana que projetaram mudou suas atitudes em relação às pequenas casas. Os arquitetos agora estão céticos em relação a "materiais brilhantes" e "formas extravagantes", já que as condições climáticas em áreas remotas impactam significativamente os materiais de construção, tornando a manutenção mais frequente e extensiva. Outro aspecto que escapa aos designers em relação a pequenas casas é a necessidade de áreas abertas, como varandas ou terraços, que podem estender o espaço quando o clima for favorável.
Ao longo desses cinco anos, envolvemos nossa cabana em marquises e varandas que não foram inicialmente projetadas. É porque quando construímos em uma terra não habitada, os espaços de transição são importantes para o conforto real. Infelizmente, esses anexos práticos não são arquitetonicamente elegantes (...) Esses espaços são essenciais por duas razões: Em primeiro lugar, essas áreas semi-abertas te permitem desfrutar mais da natureza durante diferentes condições climáticas. Em segundo lugar, elas te dão mais espaço para utilizar até que você se acostume a viver em um espaço interno minimizado. - Sevince Bayrak
Por mais atraentes que as grandes janelas possam ser, a imersão do usuário na paisagem ao redor pode se tornar um desafio de manutenção e um ponto fraco em algumas condições de temperatura. Casas pequenas na paisagem também trazem a questão da coabitação com outras espécies. Como Bayrak coloca, a fachada invariavelmente se torna o lar de várias espécies de insetos, mas colocar a natureza para fora da cabana requer finalizações simples e fáceis de se manter.
Enquanto casas rurais tradicionais mantém aberturas nas fachadas menores, se você conferir as casas pequenas no Archdaily, você vai encontrar vários exemplos de cabanas com janelas gigantes, incluindo a nossa. Nós inicialmente projetamos a persiana que fecha a gigantesca janela apenas como um gesto arquitetônico que parecia inspirador em alguns cruzamentos. Agora, nós pensamos que seria melhor ter feito uma estrutura mais leve, que pudesse ser levantada com mais facilidade, já que a usamos muito (...) para nos protegeremos de condições climáticas ruins ou de ladrões - Sevince Bayrak
Eventualmente, com o crescimento da família, o projeto precisou se expandir, e os arquitetos acrescentaram um pequeno abrigo que utilizam como ateliê e depósito, servindo de casa para hóspedes e, durante a pandemia, até mesmo como escritório. Entretanto, a dupla de designers está apreensiva com medo de cair na armadilha de constantemente aumentar o espaço e aconselha avaliar cuidadosamente cenários futuros para viver no local.
Apesar do projeto ter sofrido alterações e suas premissas iniciais terem sido redesenhadas pela experiência da vida diária e pelas necessidades espaciais, os arquitetos começaram a apreciar a imersão dentro da paisagem natural que a casa pequena oferece cada vez mais. Ao mesmo tempo, a experiência mudou como eles utilizam as atuais condições de vida nas cidades, enquanto oferece um insight valioso sobre a experiência dos espaços projetados por arquitetos.
Fundado em 2007 por Sevince Bayrak e Oral Göktaş, o escritório SO? Architecture and Ideas é um estúdio sediado em Istambul que foca em design, arquitetura e urbanismo. O trabalho da firma inclui projetos como o Sky Garden, Beylikduzu Ataturk Arts and Cultural Center, e a House of Chickens. Em 2015, o estúdio venceu a competição da Royal Academy of Arts com seu projeto "Unexpected Hill". Naquele mesmo ano, o SO? foi convidado para a exposição de Istambul promovida MAXXI, e sua instalação "Lost Barrier" foi adquirida pelo museu para a coleção permanente de arquitetura. Senvice também foi recentemente apresentada na exposição "Buone Nuove/Good News, Women in Architecture" no MAXXI, que celebrou as mulheres na arquitetura.
Esse artigo é parte de uma série do ArchDaily intitulada AD narratives, onde compartilhamos a história por trás de um projeto selecionado, mergulhando em suas particularidades. A cada mês, exploramos novas construções de todo o mundo, destacando suas histórias e como elas aconteceram. Nós também conversamos com arquitetos, construtores e com a comunidade que busca ressaltar sua experiência pessoal. Como sempre, no ArchDaily, nós apreciamos muito as sugestões de nossos leitores. Se você acha que deveríamos apresentar algum projeto, por favor, mande sua sugestão.